Ao longo desta jornada, descobri que muitas mães pouco sabem ou desconhecem sobre várias ocorrências ligadas à gravidez, ao trabalho de parto e ao pós parto. Termos como "vérnix", "aspiração", "cavalinho", "períneo" e até "plano de parto" tem pouco entendimento entre as mulheres. Porém, eu queria ser uma mãe diferente. Além de curiosa, dispunha de tempo e interesse em compreender tudo pelo qual passava e que me esperava. Não queria intervenções desnecessárias ou orientações que favorecessem mais aos médicos do que a mim e à minha filha. Então fui estudar. Aliás, fomos, pois meu marido me acompanhou firme nesta empreitada. Fizemos cursos, exercícios, hidroginástica, leituras especializadas, consultas e até de obstetra eu troquei com 35 semanas para me sentir mais segura e acolhida. Tudo com a única preocupação de melhor bem-estar para nós duas.
Eu me preparei tanto para o nascimento da Bia que também resolvi fazer o meu plano de parto. Ali, eu relatei tudo que eu desejava para aquele momento que descrevi como "o dia
mais feliz da minha vida" e por isso queria que ele acontecesse com muito carinho,
planejamento, cuidado e atenção de todas as pessoas envolvidas. O meu sonho era ser respeitada e tratada com
amorosidade, consciente de ter feito o melhor para a minha filha
nascer saudável, rodeada de amor e respeito por ela.
No meu plano de parto, eu gostaria que ela viesse direto para o meu colo e ficasse comigo por mais ou menos uma hora, que ela pegasse meu peito e eu a estimulasse a mamar, criando a conexão necessária nestes primeiros momentos tão importantes da vida dela. E que eu a namorasse por horas. Não queria que a levassem de mim e pedia, se possível, que os primeiros procedimentos pediátricos fossem realizados com ela ainda no meu colo. Também não queria que a aspirassem se não houvesse necessidade. Nada de procedimentos invasivos. Queria que seu cordão umbilical fosse cortado após parar de pulsar e que meu marido, pai dela, o fizesse. Gostaria que fossem realizados nela somente os procedimentos realmente necessários e que ela fosse tratada com muito carinho e delicadeza, pois era nosso bebezinho frágil que acabara de nascer.
Não queria que dessem banho nela nas primeiras 24h para que permanecesse com o vérnix para sua proteção. E o seu primeiro banho seria dado por mim e pelo Rodrigo. Queria que o pai indicasse a primeira roupinha de nossa filhinha e que fosse levada para ser apresentada aos familiares e amigos. Queria que ela fosse alimentada apenas pelo meu leite, sem nenhuma oferta de outro alimento ou chupeta. Queria que ela ficasse o tempo todo comigo e com o pai dela. E queria, acima de tudo, que ela viesse com toda a saúde possível. Nada disso aconteceu. Nada.
Ela quase não ficou no meu colo após seu nascimento. Ela foi aspirada, seu cordão foi cortado às pressas e não teve tempo de parar de pulsar. Inúmeros procedimentos invasivos foram feitos nela, todos necessários, lógico, mas tão grandiosos diante daquela recém-nascida que chegara em meus braços pequenina e frágil. Ela ficou por muito pouco tempo comigo, sempre quietinha, não chorava, mas seu coraçãozinho batia forte à espera de muitas outras batidas que viriam. Ou não.
Ela não ficou todo o tempo comigo nem com o pai dela, eu mal a tive nos braços, eu mal pude beijá-la. O Rodrigo não indicou sua primeira roupinha, não a vestiu, não a levou ao vidro. Ninguém a levou ao vidro. E isso é uma das coisas que mais me dói. Ninguém a viu com vida, ninguém tirou foto com ela, ninguém a viu do jeito que eu tinha sonhado e planejado. Nem os avós maternos, nem a sua dinda, nem as amigas da sua mãe. Todos estavam ali, bem pertinho à sua espera, mas sem poderem vê-la. Naquele instante, me dei conta de que iniciávamos uma nova jornada que não havia plano, treinamento ou curso que nos preparasse para o que enfrentaríamos. Ninguém nos disse o que fazer se minha filha tivesse dificuldade de respirar. Ninguém explicou como é ter um filho na UTI. Nunca foi dito como seria se perdêssemos o bebê. Eu não sabia nada. Eu estava sozinha. Eu era só vazio, espera e oração.