sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Prece de 2 meses

Há 2 meses minha filha nascia e vinha para os meus braços.

Há 2 meses eu sou grata por ter sido escolhida por ela pra ser sua mãe e acolhê-la em meu ventre.

Há 2 meses eu agradeço por ter dado à luz a uma estrelinha que veio brilhar em nossas vidas, mesmo que por um breve momento. 

Há dois meses que eu morro de saudade sem fim.

Minha filha, receba esta prece de mim e de todos nós.

(Vídeo com prece na voz de Maria Betania)

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Plano de Parto

Ao longo desta jornada, descobri que muitas mães pouco sabem ou desconhecem sobre várias ocorrências ligadas à gravidez, ao trabalho de parto e ao pós parto. Termos como "vérnix", "aspiração", "cavalinho", "períneo" e até "plano de parto" tem pouco entendimento entre as mulheres. Porém, eu queria ser uma mãe diferente. Além de curiosa, dispunha de tempo e interesse em compreender tudo pelo qual passava e que me esperava. Não queria intervenções desnecessárias ou orientações que favorecessem mais aos médicos do que a mim e à minha filha. Então fui estudar. Aliás, fomos, pois meu marido me acompanhou firme nesta empreitada. Fizemos cursos, exercícios, hidroginástica, leituras especializadas, consultas e até de obstetra eu troquei com 35 semanas para me sentir mais segura e acolhida. Tudo com a única preocupação de melhor bem-estar para nós duas.

Eu me preparei tanto para o nascimento da Bia que também resolvi fazer o meu plano de parto. Ali, eu relatei tudo que eu desejava para aquele momento que descrevi como "o dia mais feliz da minha vida" e por isso queria que ele acontecesse com muito carinho, planejamento, cuidado e atenção de todas as pessoas envolvidas. O meu sonho era ser respeitada e tratada com amorosidade, consciente de ter feito o melhor para a minha filha nascer saudável, rodeada de amor e respeito por ela.

No meu plano de parto, eu gostaria que ela viesse direto para o meu colo e ficasse comigo por mais ou menos uma hora, que ela pegasse meu peito e eu a estimulasse a mamar, criando a conexão necessária nestes primeiros momentos tão importantes da vida dela. E que eu a namorasse por horas. Não queria que a levassem de mim e pedia, se possível, que os primeiros procedimentos pediátricos fossem realizados com ela ainda no meu colo. Também não queria que a aspirassem se não houvesse necessidade. Nada de procedimentos invasivos. Queria que seu cordão umbilical fosse cortado após parar de pulsar e que meu marido, pai dela, o fizesse. Gostaria que fossem realizados nela somente os procedimentos realmente necessários e que ela fosse tratada com muito carinho e delicadeza, pois era nosso bebezinho frágil que acabara de nascer. 

Não queria que dessem banho nela nas primeiras 24h para que permanecesse com o vérnix para sua proteção. E o seu primeiro banho seria dado por mim e pelo Rodrigo. Queria que o pai indicasse a primeira roupinha de nossa filhinha e que fosse levada para ser apresentada aos familiares e amigos. Queria que ela fosse alimentada apenas pelo meu leite, sem nenhuma oferta de outro alimento ou chupeta. Queria que ela ficasse o tempo todo comigo e com o pai dela. E queria, acima de tudo, que ela viesse com toda a saúde possível. Nada disso aconteceu. Nada.


Ela quase não ficou no meu colo após seu nascimento. Ela foi aspirada, seu cordão foi cortado às pressas e não teve tempo de parar de pulsar. Inúmeros procedimentos invasivos foram feitos nela, todos necessários, lógico, mas tão grandiosos diante daquela recém-nascida que chegara em meus braços pequenina e frágil. Ela ficou por muito pouco tempo comigo, sempre quietinha, não chorava, mas seu coraçãozinho batia forte à espera de muitas outras batidas que viriam. Ou não.

Ela não ficou todo o tempo comigo nem com o pai dela, eu mal a tive nos braços, eu mal pude beijá-la. O Rodrigo não indicou sua primeira roupinha, não a vestiu, não a levou ao vidro. Ninguém a levou ao vidro. E isso é uma das coisas que mais me dói. Ninguém a viu com vida, ninguém tirou foto com ela, ninguém a viu do jeito que eu tinha sonhado e planejado.  Nem os avós maternos, nem a sua dinda, nem as amigas da sua mãe. Todos estavam ali, bem pertinho à sua espera, mas sem poderem vê-la. Naquele instante, me dei conta de que iniciávamos uma nova jornada que não havia plano, treinamento ou curso que nos preparasse para o que enfrentaríamos. Ninguém nos disse o que fazer se minha filha tivesse dificuldade de respirar. Ninguém explicou como é ter um filho na UTI. Nunca foi dito como seria se perdêssemos o bebê. Eu não sabia nada. Eu estava sozinha. Eu era só vazio, espera e oração.
  

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A promessa

Uns meses antes de eu engravidar da Beatriz, meu marido e eu viajamos à Punta del Este e visitamos na beira da praia um santuário de "Ntra. Sra. de la Candelária", patrona da cidade, onde haviam diversas lajotas de preces e gratidão por terem seus pedidos atendidos. Achei aquilo tão bonito naquele local, a céu aberto, em frente ao mar, tudo tão abençoado por Deus, que pensei que realmente nossos desejos poderiam ser concedidos quando feitos assim, diante de tanta natureza e plenitude.

Então, em silêncio, resolvi fazer a minha promessa também. Eu que quase nunca negociei com Deus, do tipo "faça isso que eu faço aquilo", pois sempre achei que o que recebemos é por simplesmente sermos merecedores. Do contrário, nada feito. Porém, pedi que, se me fosse permitido, eu gostaria de engravidar e que este serzinho viesse ao mundo com plena saúde. E só. Em troca, prometi àquela santa que ali me olhava com seu bebê no colo que, se realizasse meu desejo, eu também voltaria com meu bebê no colo e minha lajota, linda, gravada e a penduraria com todo o meu amor, como forma de agradecimento por ter sido ouvida. Pois é, foi muito.


Eu não sei se voltarei à Punta nem sei se visitarei novamente este santuário. Meu marido diz que devemos ir para fazer uma nova promessa. Eu já fico pensando em como seria esse reencontro: talvez eu metesse o dedo na cara dela e dissesse umas poucas e boas. Talvez ficasse quietinha e chorasse muito. Ou talvez eu apenas agradecesse por tudo que me foi ofertado, pela vida que germinou em meu ventre, pelos olhos amendoados que encontraram os meus ao nascer e até mesmo pela partida sutil e precoce. E, mesmo que pouco entendendo, talvez deixasse que sua sabedoria me guiasse para onde devo ir. 



sábado, 15 de agosto de 2015

Coragem, Fé e Amor

Conversando com uma amiga, ela comentou: "Falei com a Mônica e ela disse: 'Acho que a Camila deveria escrever neste momento. Ela escreve tão bem'". E assim nasceu a coragem de escrever pra Bia. E pra outras mães em luto, pra quem nos ama, pro meu marido, pra mim.

Desde que tudo aconteceu, eu mesma consolava os outros dizendo "que eu tenha coragem, fé e amor". Coragem para enfrentar o que nos cabia sem recusa, afinal não poderíamos jogar pra baixo do tapete um sentimento, adiar uma dor, fingir uma despedida. Era necessário vivenciar a perda, cada etapa do nosso luto que recém começara, cada vazio que nos restava. Coragem pra dar o pause em nossas vidas e se deixar levar por este eterno parêntese que se fez e que um dia, com certeza, irá se fechar.


Pedi fé porque quando algo assim nos abate queremos ter uma reunião bem extensa com Deus pra esclarecer os motivos desta decisão de atalhar o caminho e mudar a direção. Ora, queremos explicações! Mas daí, não tem hora marcada, sala reservada, cafezinho ou água gelada. Há um imenso silencio e solidão que se sentam ao lado, invisíveis, e que nos ensurdecem com as suas presenças. Daí eu precisei de fé, aquela alimentada há tempos, cultivada com paciência para quando eu necessitasse ela estaria ali, vivinha da Silva pra me salvar. Para entender, acreditar e, mais do que tudo, aceitar que algo maior existe e que tudo aqui vivido um dia lá atrás foi combinado entre nós 3. Ela, Ele e eu.


E, por último, se não fosse pedir muito, ter amor. Essencialmente o amor que a fez ser gerada e esperada, o amor que reside em nossa casa, que inspira nossos dias, que aproxima nossas almas. O amor que existe 
entre mim e o Rodrigo, que se faz presente em nossos olhares, toques e fala e até mesmo quando nada falamos ou fazemos, mas ele está ali, enlaçado em nós. 

Hoje, posso agradecer, pois meus 3 pedidos foram atendidos, mas todos os dias eu os renovo, afinal não é algo que se ganha e pronto. É necessário manter por uma longa viagem. Esta, agora, que acaba de iniciar pra nós.