Há pouco mais de um mês, minha sobrinha e afilhada de 8 anos fez um trabalho de inglês na escola o qual tinha que desenhar algo que representasse uma determinada palavra em inglês. A palavrinha dela era "Sad" (tradução: tristeza).
Então, essa garotinha de apenas 8 anos, mas com uma luz e uma sensibilidade incríveis, fez o seu desenho. Ela não desenhou quando caiu da bicicleta, quando se perdeu no shopping ou quando ficou de castigo. Nem quando seu cachorrinho morreu, ou quando seu peixinho morreu, ou quando seu hamster morreu. Ela desenhou que, quando pensava na Bia, ficava triste.
O desenho de Gabi vem mostrar muito mais do que uma correta interpretação do inglês, mas a interpretação de um sentimento. E isso é a interpretação da vida! Ela entendeu que a priminha falecida partiu e virou um anjinho, sem ninguém contar desta forma pra ela. Ela desenhou que chora com a partida. Ela desenhou que sente por não tâ-la conhecido. Ela desenhou que sofre por mim, pelo tio Rodrigo, pela vovó, pelo vovô, pela mamãe. Ela desenhou aquilo que nem eu sei se conseguiria desenhar tão bem. Desenhou a saudade estampada em suas lágrimas daquilo que ela não conheceu, do que ela não viveu. O desenho de Gabi é a tristeza da dinda ter perdido seu bebê, dela não ter visto seu rostinho nem ter pegado em suas mãozinhas. O desenho de Gabi é a tradução de como ela e todos nós nos sentimos naquele momento, mesmo ela morando há mais de 1.500km da gente.
Assim como a dinda aqui, ela também está triste. E essa tristeza leva as pessoas a se unirem em resposta à perda, trazendo outros sentimentos à tona: solidariedade, respeito, empatia, generosidade, compaixão. Que bom que o desenho de Gabi retratou a sua tristeza e o seu estado de espírito. Fico feliz em saber que ela está sabendo lidar, já desde pequena, com esta sensação e permitiu que ela se achegasse, a aceitou, a abraçou. Vivenciar a tristeza, seja falando ou através de um desenho, não é fácil para os adultos, imagina para uma criança. Mas ela traz consigo a capacidade da gente dar valor à felicidade e ter esperança de que a gente é capaz de juntar os nossos pedaços e se refazer para ser feliz.