segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Plano de Parto

Ao longo desta jornada, descobri que muitas mães pouco sabem ou desconhecem sobre várias ocorrências ligadas à gravidez, ao trabalho de parto e ao pós parto. Termos como "vérnix", "aspiração", "cavalinho", "períneo" e até "plano de parto" tem pouco entendimento entre as mulheres. Porém, eu queria ser uma mãe diferente. Além de curiosa, dispunha de tempo e interesse em compreender tudo pelo qual passava e que me esperava. Não queria intervenções desnecessárias ou orientações que favorecessem mais aos médicos do que a mim e à minha filha. Então fui estudar. Aliás, fomos, pois meu marido me acompanhou firme nesta empreitada. Fizemos cursos, exercícios, hidroginástica, leituras especializadas, consultas e até de obstetra eu troquei com 35 semanas para me sentir mais segura e acolhida. Tudo com a única preocupação de melhor bem-estar para nós duas.

Eu me preparei tanto para o nascimento da Bia que também resolvi fazer o meu plano de parto. Ali, eu relatei tudo que eu desejava para aquele momento que descrevi como "o dia mais feliz da minha vida" e por isso queria que ele acontecesse com muito carinho, planejamento, cuidado e atenção de todas as pessoas envolvidas. O meu sonho era ser respeitada e tratada com amorosidade, consciente de ter feito o melhor para a minha filha nascer saudável, rodeada de amor e respeito por ela.

No meu plano de parto, eu gostaria que ela viesse direto para o meu colo e ficasse comigo por mais ou menos uma hora, que ela pegasse meu peito e eu a estimulasse a mamar, criando a conexão necessária nestes primeiros momentos tão importantes da vida dela. E que eu a namorasse por horas. Não queria que a levassem de mim e pedia, se possível, que os primeiros procedimentos pediátricos fossem realizados com ela ainda no meu colo. Também não queria que a aspirassem se não houvesse necessidade. Nada de procedimentos invasivos. Queria que seu cordão umbilical fosse cortado após parar de pulsar e que meu marido, pai dela, o fizesse. Gostaria que fossem realizados nela somente os procedimentos realmente necessários e que ela fosse tratada com muito carinho e delicadeza, pois era nosso bebezinho frágil que acabara de nascer. 

Não queria que dessem banho nela nas primeiras 24h para que permanecesse com o vérnix para sua proteção. E o seu primeiro banho seria dado por mim e pelo Rodrigo. Queria que o pai indicasse a primeira roupinha de nossa filhinha e que fosse levada para ser apresentada aos familiares e amigos. Queria que ela fosse alimentada apenas pelo meu leite, sem nenhuma oferta de outro alimento ou chupeta. Queria que ela ficasse o tempo todo comigo e com o pai dela. E queria, acima de tudo, que ela viesse com toda a saúde possível. Nada disso aconteceu. Nada.


Ela quase não ficou no meu colo após seu nascimento. Ela foi aspirada, seu cordão foi cortado às pressas e não teve tempo de parar de pulsar. Inúmeros procedimentos invasivos foram feitos nela, todos necessários, lógico, mas tão grandiosos diante daquela recém-nascida que chegara em meus braços pequenina e frágil. Ela ficou por muito pouco tempo comigo, sempre quietinha, não chorava, mas seu coraçãozinho batia forte à espera de muitas outras batidas que viriam. Ou não.

Ela não ficou todo o tempo comigo nem com o pai dela, eu mal a tive nos braços, eu mal pude beijá-la. O Rodrigo não indicou sua primeira roupinha, não a vestiu, não a levou ao vidro. Ninguém a levou ao vidro. E isso é uma das coisas que mais me dói. Ninguém a viu com vida, ninguém tirou foto com ela, ninguém a viu do jeito que eu tinha sonhado e planejado.  Nem os avós maternos, nem a sua dinda, nem as amigas da sua mãe. Todos estavam ali, bem pertinho à sua espera, mas sem poderem vê-la. Naquele instante, me dei conta de que iniciávamos uma nova jornada que não havia plano, treinamento ou curso que nos preparasse para o que enfrentaríamos. Ninguém nos disse o que fazer se minha filha tivesse dificuldade de respirar. Ninguém explicou como é ter um filho na UTI. Nunca foi dito como seria se perdêssemos o bebê. Eu não sabia nada. Eu estava sozinha. Eu era só vazio, espera e oração.
  

6 comentários:

  1. Eu também sonhei e planejei diferente. Sempre tive consciência de que eu queria o melhor pra ele e não defendia parto, defendia saúde. Minha bolsa rompeu, ele nasceu de cesárea, foi pra uti mas graças a Deus está aqui. Camila eu não sei o que houve contigo, a dias estou pensando em sua história. A última vez que falei contigo sobre os tapetes, lembro que tu disse talvez não serei eu a entregar pois estou bem barriguda... Estou sem acreditar até agora :(

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  2. Infelizmente tudo isso faz parte da vida, achamos que podemos controlar ela, prever cada instante, mas as coisas as vezes fogem do nosso controle e temos que ter a mesma força para anfrenta-las.
    Beijos, beijos flor.

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  3. Eu perdi a primeira gestação, quando minha filha nasceu de cesária a única coisa que agradecia foi ela estar viva, pois essa perda é doida demais e até hoje quando estou amamentando ela, era pra eu ter dois filhos no meu colo, ganhando meu amor... Já não faço planos apenas pesso a Deus piedade e misericórdia de não tirar ela de mim

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  4. Oi Camila! Sou a mamãe da estrelinha Helena e nos falamos no grupo do Whats e também do Facebook... De tudo isso, eu aprendi uma lição: não temos controle sobre os acontecimentos da vida. O Henrique, meu primeiro filho, de 7 anos, passou por uma cesárea desnecessária e tudo o mais que não gostaria que acontecesse com a Helena. Nosso pré-natal foi perfeito. A gestação foi permeada de amor, luz e muita alegria, e tinha uma equipe humanizada me apoiando e me empoderando em todo esse período. Mas minha "passarinha" parou de se mexer no dia 10/08 à noite. Curiosamente, pela manhã, nossa consulta das 39 semanas foi perfeita. Batimentos "ok", movimentação "ok", tudo "ok". Confirmado o seu óbito, optei por induzir o trabalho de parto. Era o tempo que precisava para me despedir dela. Durante o trabalho de parto, eu aceitei sua morte. Eu senti na carne a dor pela perda da minha filha tão amada e desejada. Tive ruptura uterina e precisamos fazer a cesárea... Não a peguei no colo. Não a embalei. Não a troquei e nem pude ir ao seu enterro. Mas tirei fotos, conseguimos guardar a placenta, eu a beijei e tenho foto com ela e meu marido. Essa é a diferença de termos uma equipe humanizada nos assistindo nos momentos mais difíceis e inesperados. Descobrimos que seu óbito foi em decorrência de um nó verdadeiro de cordão. Inacreditável. Uma fatalidade. Surreal. Você não está sozinha nessa dor, Camila... Mas, infelizmente, viverá sozinha essa dor assim como eu. Ninguém poderá vivê-la por nós. Ninguém. E só nós sabemos o que significa existir um vazio infinito em nosso peito. Fique bem. Se precisar compartilhar um pouquinho mais, estarei por aqui. Meu blog: estrelinhahelena.blogspot.com.br. Beijos!

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  5. Gislaine Toledo de Souza8 de outubro de 2015 às 17:57

    Olá Camila! Meu nome é Gislaine, como muitas coisas vem acontecendo para ajudar a mim e ao meu marido, ontem me deparei com sua história, e fui muito tocada, pois foi um pouco parecida com a minha. A menos de dois meses tbm perdemos nossa Filinha de apenas 13 dias... ela tinha uma cardiopatia... Mas Deus é perfeito e nos deu o milagre da Clara! Estranho falar em milagre se minha filha não esta aqui, mas onde ela esta nao existe doeça, dor... ela esta bem! E feliz... em Paz! Junto de Deus e da Virgem Maria! E olha por nós, papai e mamae... Tudo o que vivemos juntos foi maravilhoso! Vivemos e sentimos o verdadeiro amor de Deus! Sempre que estavamos com ela diziamos que ela era nosso pedacinho do céu! ... Meu anjo! Temos a certeza q ela sempre foi nosso anjo, e veio aqui nos conhecer pessoalmente... e voltou para o céu pra continuar a cuidar de nós! Nós, Mãe e Pais de Anjos somos muito eapeciais e abençoados por Deus! E os planos de Deus para nossa vida são muito maiores e além do nosso entendimento! Eu Creio em Deus e sei que Ele nos dará outros filhos! Irmaozinhos/as da Clara! Agradeço a Deus e a Maria Santissima por nos carregar no colo todos os dias! E nos dar forças para seguir! E mostrar para todos a nossa volta o quanto Deus é perfeito! O quanto o Amor pode fazer! E nossa anjinha nos mostra a cada dia que esta tudo bem! Fiquem bem papai e mamae! Eu estou bem!
    gostaria muito de conversar com você! quando for possível é claro!
    toledo.gislaine@yahoo.com e meu Face é GieLe Souza
    Fique com Deus! e com os Anjos!!! um forte abraço!

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  6. Olá Camila,
    Gostaria primeiramente de te parabenizar por conseguir realizar este blog e compartilhar conosco a sua dor.
    Eu não tive esta mesma coragem, leio as mensagem no face e não consigo nem responde-las sem chorar.
    Recebemos uma triste notícia no sexto mês de gestação através de uma eco do coraçãozinho que o nosso filho Humberto teria sérias complicações ao nascer, devido a hipoplasia no ventrículo esquerdo. Ficamos muito arrasados, pois havíamos feitos muitos planos e a notícia de não sobrevivência de nosso filho após algumas cirurgias não nos podia ser real. Mas jamais desistimos de acreditar e tínhamos muitas esperanças de sua sobrevivência. Passaríamos pelo que tivesse que passar, mas sempre pensamos que iríamos para casa com o nosso filho. Ele nasceu no dia 18 de setembro, passou por uma cirurgia no dia 23 e não resistiu. Consegui ver o meu filho por cinco dias, agradeço à Deus por ter me concedido esses dias para vê-lo, mas ainda é muito difícil para mim aceitar a sua perda, pois queria muito ter amamentado ele, vestido as roupas, ter colocado no berço e agora só sobrou saudades. Lembranças boas e tristes, pois via ele no hospital sofrendo com tantos procedimentos que o que me conforta é isto, que agora ele está bem descansou. E o medo fica agora de passar novamente por outra gestação e perder outro bebê, não sei se suportaria.
    Desejo à você e ao seu esposo que se fortaleçam para que recebam boas notícias em breve, assim como nós também estamos esperançosos.
    Um forte abraço,
    Carla Pedroso
    carlaelisianep@yahoo.com.br

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