terça-feira, 29 de setembro de 2015

O desenho de Gabi

Há pouco mais de um mês, minha sobrinha e afilhada de 8 anos fez um trabalho de inglês na escola o qual tinha que desenhar algo que representasse uma determinada palavra em inglês. A palavrinha dela era "Sad" (tradução: tristeza).

Então, essa garotinha de apenas 8 anos, mas com uma luz e uma sensibilidade incríveis, fez o seu desenho. Ela não desenhou quando caiu da bicicleta, quando se perdeu no shopping ou quando ficou de castigo. Nem quando seu cachorrinho morreu, ou quando seu peixinho morreu, ou quando seu hamster morreu. Ela desenhou que, quando pensava na Bia, ficava triste. 
O desenho de Gabi vem mostrar muito mais do que uma correta interpretação do inglês, mas a interpretação de um sentimento. E isso é a interpretação da vida! Ela entendeu que a priminha falecida partiu e virou um anjinho, sem ninguém contar desta forma pra ela. Ela desenhou que chora com a partida. Ela desenhou que sente por não tâ-la conhecido. Ela desenhou que sofre por mim, pelo tio Rodrigo, pela vovó, pelo vovô, pela mamãe. Ela desenhou aquilo que nem eu sei se conseguiria desenhar tão bem. Desenhou a saudade estampada em suas lágrimas daquilo que ela não conheceu, do que ela não viveu. O desenho de Gabi é a tristeza da dinda ter perdido seu bebê, dela não ter visto seu rostinho nem ter pegado em suas mãozinhas. O desenho de Gabi é a tradução de como ela e todos nós nos sentimos naquele momento, mesmo ela morando há mais de 1.500km da gente. 

Assim como a dinda aqui, ela também está triste. E essa tristeza leva as pessoas a se unirem em resposta à perda, trazendo outros sentimentos à tona: solidariedade, respeito, empatia, generosidade, compaixão. Que bom que o desenho de Gabi retratou a sua tristeza e o seu estado de espírito. Fico feliz em saber que ela está sabendo lidar, já desde pequena, com esta sensação e permitiu que ela se achegasse, a aceitou, a abraçou. Vivenciar a tristeza, seja falando ou através de um desenho, não é fácil para os adultos, imagina para uma criança. Mas ela traz consigo a capacidade da gente dar valor à felicidade e ter esperança de que a gente é capaz de juntar os nossos pedaços e se refazer para ser feliz.

8 comentários:

  1. Lindo e triste! Comovente... Força, lindinha, junto ao carinho e apoio do Rodrigo, da família e amigos, dias mais brandos e serenos voltarão a iluminar tua caminhada! Bjs da tia

    ResponderExcluir
  2. Lindo filha! Nossos corações transbordam de amor e esperança de dias felizes.Gerastes um anjo, que com certeza ilumina os caminhos de vocês dois. Fé, amor e muita luz.Bjs

    ResponderExcluir
  3. Gabi é muito fofa e sensível.... Que Deus de força pra toda a família.
    "Saudade é como o amor, nunca pára de crescer, porque aqueles que amamos fazem parte do que nos somos, mesmo estando longe...."

    ResponderExcluir
  4. Camila, ainda não tive coragem de colocar os desenhos do meu filho no blog da Helena... São muito tristes... Ele conseguiu retratar o quarto do Hospital e a perda da irmã... A separação... De uma maneira inacreditável, mas muito dolorosa. Caí em prantos quando vi. Foram três desenhos muito fortes. De muita dor. Que Deus abençoe as crianças que também vivenciaram as nossas perdas. Um beijo e fique em paz!

    ResponderExcluir
  5. É lindo mas é muito triste. Conheci o Blog através da matéria na Crescer, quando eu descobri que meu filho ficou com tetraplegia incompleta na UTI eu logo me agarrei a escrever, foi uma forma de me libertar. Que Deus te dê muita força e que vocês sigam em paz e com essa força que você transmite. Um beijo!

    www.nathaliajoi.com.br

    ResponderExcluir
  6. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  7. Eu não consigo nem imaginar a sua dor. Tenho dois filhos e chorei demais lendo sua. história através da matéria na Crescer . Peço a Deus que te dê força, sabedoria para entender o que ocorreu e o que está acontecendo. Mesmo tendo uma Fé enorme em Deus, paro e penso por qual motivo um anjo se foi tão rápido... Um beijo enorme vou rezar muito por vc e sua família..

    ResponderExcluir
  8. Querida Camila, também cheguei até você pelo blog da revista Crescer. Não posso mensurar o tamanho da tua dor. Minha mãe faleceu no meu parto, deixando a mim e o meu irmão. Nossa família foi dilacerada, pois quando se vai ao hospital para receber um bebê não se cogita a possibilidade de abrir a porta para a tristeza, quanto mais para a morte...o choque é muito maior, são sonhos despedaçados, vidas mutiladas. Mas Deus dá força e o tempo é capaz de milagres..tenho certeza que Ele fará o melhor para vocês, mesmo que agora tu não consiga enxergar. Eu não podia ter filhos, mas engravidei mesmo assim..tive uma gravidez muito tensa e um parto de emergência...diferentemente de você, fui para o hospital esperando o pior, pois não sentia mais o bebê...mas Deus fez um milagre e hoje tenho um menino lindo e inteligente. Tenha força e certeza de que todo esse amor que está em seu peito só te fará crescer e um dia, num futuro não muito distante, tu voltará a sorrir de verdade e será muito feliz. Um grande abraço!

    ResponderExcluir